9 de Novembro, quinta |
Este dia foi um bocado Twilight Zone.
Calcei as botas novas, o que quer dizer que passada meia hora já não conseguia andar. Mas tive que aguentar até às onze da noite.
À hora de almoço arrastei-me lentamente até à Academia para ter aula com a nova prof de piano. Foi uma das que me fez exame por isso já a conhecia. Parece-me menos exigente do que a outra, o que não é necessáriamente bom, mas acho que não fala tanto e estou mais à vontade a tocar. Pode ser que funcione.
Ao regressar ao trabalho fiquei fechada no metro porque outra carruagem teve uma avaria. Cheguei tardíssimo mas como eles estavam todos a jogar Unreal não houve grande problema. Ainda fiz uns banners e não fui capaz de abrir um ficheiro no Flash porque o programa passava o tempo a queixar-se de falta de memória, mesmo depois de fazer restart, ter todos os programas fechados e aumentar a memória disponível para o programa. Desisti.
Depois fui para o ensaio, perto das seis e meia. O Cali foi-me buscar ao metro e disse-me que iamos ter um elemento novo a tocar connosco hoje. Não sabia muito excepto que era estrangeiro e tocava teclas, aparentemente muito bem. A primeira coisa que nos vem à cabeça é que se o tipo toca realmente bem, ouve-nos e desiste. Yeah, right...
Só posso dizer que foi uma das noites mais estranhas da minha vida. Realmente o tipo toca bem e um bocadinho de todos os instrumentos, mas o estilo é que deixa um pouco a desejar. No fundo até faz bem porque tem provavelmente mais futuro do que nós, só que eu prefiro manter alguma integridade e 'keep my day job' :)
Aquilo que ele tocava andava pelos estilos de Vangelis, Jean Michelle Jarre, Elton John, Michael Jackson, enfim, tudo o que seja relativamente imediato (bem, o Vangelis não se integra muito bem mas referi mais por causa dos sons de sintetizador) com muitos acordes maiores e as letras mais foleiras que alguma vez ouvi, em português, ainda por cima, o que não ajuda, coisas tipo 'estou tão lixado' e pior. Não é que fosse extraordinariamente mau, é simplesmente que não tem nada a ver com aquilo que estamos a tentar fazer. É mais boy band :)
E como também não conhecia nenhum dos grupos que mencionámos e a resposta ao que tocámos é que 'não era comercial', ficámos por aqui. Ficou toda a gente um pouco decepcionada e o Pedro (o baixista) ficou com a triste tarefa de lhe dizer que 'o próximo ensaio, não é bem assim' porque mesmo depois de lhe dizermos várias vezes que não era aquilo, ele não percebeu. Acho que a atitude devia ser muito 'eles nem sabem a sorte que têm em me ter aqui, ainda por cima com músicas feitas e tudo' e nem lhe passou pela cabeça que não estivéssemos interessados.
Depois descobri que a minha atitude charmosa de ser extraordinariamente honesta já ofendeu mais uma pessoa - another one bites the dust. Eu não faço de propósito. As minhas 'people skills' nunca foram muito treinadas. E por vezes sinto a necessidade de dizer as coisas exactamente como são e o mundo não está preparado para isso. Não é muito educado da minha parte, eu sei. Só que evita situações como a desta noite. Também faz com que ninguém me suporte por muito tempo. Tenho a impressão que já consegui chocar ou ofender praticamente todas as pessoas que conheço. Algumas vezes dei por isso, outras passou-me completamente ao lado. Enfim, perdoem-me. Não é por mal. É um mecanismo de defesa. |
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