1 de Maio, quarta |
62,5kg; 1032kcal
Estou a tentar fazer a mistura final das músicas e não paro de pensar em como a minha atitude em relação a isso é tão diferente da atitude que tenho em relação a tudo o resto.
Sempre fui altamente defensiva em relação a críticas e sempre fui alvo de críticas - a minha primeira tentativa de fazer uma banda desenhada quando era miúda, que tinha como objectivo experimentar uns personagens que tinha inventado inspirando-me numa falha de tinta na parede, foi altamente criticada pelos meus pais porque a história - que para mim tinha pouca importânci nessa altura porque estava a tentar desenvolver o desenho - não era nada original e era demasiado parecida com os Estrumfes. Mais tarde, as críticas constantes do meu pai em relação ao desenho levaram-me a deixar de desenhar. É o que dá viver com uma pessoa que tem sempre aquela atitude de 'eu é que sei'. Aliás, lembra-me um personagem do Fast Show :)
A minha forma de vestir, admitidamente pouco usual, era constantemente criticada tanto dentro como fora de casa, tendo chegado a ser vítima de perseguição na escola por não me conformar com a moda em rigor. No fundo acho que tinha uma certa inclinação para o design de moda, mas quando chegou a altura, o único curso era no IADE, e para o meu paizinho isso estava fora de questão. E não era só pelo dinheiro porque acabei por ir antes fazer outro curso de um ano em que se pagava o mesmo.
Enfim. Ao fim de uns anos eu era uma pessoa extraordinariamente insegura e totalmente desprovida de auto-estima, forçada a conformar-me e escondida por detrás de uma armadura de agressividade e desdém. Atacava primeiro e ouvia depois.
Felizmente que algumas coisas são ultrapassáveis, assim que podemos ser um pouco mais independentes, e hoje em dia já tenho uma atitude muito mais saudável em relação à vida em geral. Mas acabei por tirar um curso que não queria e nunca acredito plenamente naquilo que faço, pelo que continuo a ser extremamente defensiva no que diz respeito a críticas.
Quanto à auto-estima, a partir dos 15 anos passei por toda a espécie de transformações à procura do ideal através da imagem física. Não só porque estava farta de ser a menina feia de óculos mas também porque estava plenamente consciente de que só depois de aprovar a fachada é que as pessoas se dão ao trabalho de avaliar o interior. É triste mas é verdade. Aliás, para provar isso mesmo, posso acrescentar desde já que 90% do mail que recebo a partir do site é de homens, geralmente com comentários sobre o meu aspecto em determinada foto, o que diz muita coisa.
E depois de tantos anos a tentar estar bem comigo mesma sem me submeter a cirurgia, começo a engordar. É cruel, no mínimo. E parece que não posso dizer uma coisa destas sem receber logo carradas de mail sobre como as mulheres acham todas que estão gordas e que fumar não é solução (algumas pessoas têm problemas em identificar sarcasmo), entre outras gemas.
Acho que até estou a ter uma atitude bastante realista. Não estou super gorda. Desde há 4 ou 5 anos, quando parei finalmente de crescer, comecei lentamente a engordar. E se não faço qualquer coisa agora, enquanto ainda vou a tempo, a situação só vai piorar. Quem tiver dúvidas, saia à rua e faça uma média de peso das mulheres acima dos 35 que vir passar. E como ainda nem tenho 30, estou simplesmente a tentar retardar o processo. E qual é o problema de querer ter o aspecto que imagino que tenho até olhar para o espelho?
Não entendo porque é que alguém acha que, sem conhecer minimamente uma pessoa, pode criticar as razões que levam uma pessoa a fazer seja o que for. Uma das coisas que já aprendi é que não vale a pena dar conselhos. As pessoas não ouvem e só fazem aquilo que querem, mesmo que seja mau para elas. É mesmo assim. Mas consegui já fazer muito mais com a minha atitude pessimista de 'já sei que nunca vou conseguir fazer isto mas vou tentar enquanto puder ou me divertir' do que muita gente com a atitude de 'está tudo bem'. Aliás as pessoas que conheço estilo está tudo bem não concretizam coisa nenhuma. Porque se está tudo bem, para quê esforçar-se mais?
A insistência conta para muito e acabo sempre por cumprir os meus objectivos. Mas é natural que tenha uns momentos depressivos pelo meio. Felizmente a minha personalidade não permite que durem muito tempo.
Mas, por qualquer razão, quando alguém critíca as músicas, eu oiço, se acho que têm razão faço alterações, e se é alguma coisa tipo 'isso não vale nada' não me afecta minimamente. Não sei porquê. Isto para mim é semelhante a descobrir um tesouro enterrado. Se conseguisse reagir sempre assim, estava tudo bem. No fundo, só nos podem fazer sentir mal se deixarmos.
I guess I've always been a bit of a masochist
I do it all the hard way
I'll pick a fight just to feel the pain
À noite vi o filme 'To catch a thief' do Hitchcock. |
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