Tive de acordar cedinho para ir ter aula de música. Quase que tive a tentação de ficar na cama mas fui à mesma. E pelos vistos não sou a única pessoa a achar que é cedo demais para tocar piano: o prof. perguntou se para a semana podia ir antes às duas da tarde. concordo plenamente. Aliás, tentei logo mudar para a tarde daqui para a frente :)
Fui finalmente fazer umas compras sozinha e procurar alguns items de interesse para o Pedro. Não consegui exactamente aquilo que queria mas não me safei muito mal.
Fui também fotocopiar mais um livro de pautas mas as máquinas de fotocópias estavam a ser reparadas. Deixei o livro e fui às compras. Mas depois esqueci-me de ir buscar as cópias e voltei para casa, tra-la-ra, com os sacos de compras e só depois de chegar é que dei por isso.
Então fui acordar o Pedrinho, que já passava da uma e se eu não durmo não dorme ninguém, e fomos embora acabar as compras de presentes, comida de gato e buscar as fotocópias. Eu é que me tinha esquecido mas o homem pensava que eu já tinha ido lá quando ele fechou para almoço e pediu muitas desculpas. Até tinha tirado uma cópia a cores da capa como compensação. Coitado. E eu que só preciso da capa para saber que é o opus 599...
Mas pronto, finalmente uma loja em que as pessoas se parecem preocupar com os clientes. Garanto que é muito raro.
Depois andámos um bocado às voltas pela cidade, desta vez de carrinho, e estava um trânsito desgraçado. Parece que os velhotes sairam todos à rua hoje. Atravessavam-se às duzias em frente ao carro, para dificultar ainda mais o percurso.
E aqui, as almas sensíveis devem parar de ler porque vou começar a disparatar. Não sei porquê mas acho que estou para aí virada hoje. Além disso fui encorajada a expor a minha teoria.
Acho que as pessoas a partir de uma determinada idade - com as devidas excepções, entenda-se - não são mais do que desperdício de espaço. Não é pela idade mas pelo facto de deixarem de ser úteis à sociedade e passarem a arrastar-se pelos cantos e atravessar-se à frente de automóveis. Já não produzem nada mas também não parecem muito felizes por ter tempo livre. Passam o tempo a queixar-se do reumático e da juventude que já não presta. Se se mantivesse a posição social do velho sábio que é consultado para dar conselhos. Mas toda a gente quer cometer os seus próprios erros hoje em dia do que cometê-los porque se baseou nos conselhos de outra pessoa.E ntão se ao menos as pessoas que já não necessitam de trabalhar fossem uma espécie de inspiração, um exemplo para os mais novos, do estilo, a mãezinha poder dizer ao seu rebento 'estás a ver aquele velhinho tão feliz? Depois de trabalhares muitos anos e contribuires para a sociedade vais ter como recompensa algum tempo livre para fazeres o que quizeres e ser feliz como aquele senhor'; mas isso não acontece. As pessoas acabam, pelo contrário, com a disposição 'andei estes anos todos a esforçer-me para isto?'
È por isso que grande parte da nossa população idosa é um desperdíco de espaço, oxigénio e dinheiro. E eu nem tenho muito que me queixar. Os médicos, por exemplo, que levam com eles em cima todos os dias estão muito piores. Mas faz parte da profissão contribuir para prolongar a saúde e a vida mesmo daqueles que já não têm muito para que viver. Está bem, pronto, estou a ser mazinha, mas é verdade que tanto socialmente como biológicamente a vida destas pessoas chegou ao fim. Já fizeram a sua parte e o pior é que não parecem muito felizes por isso. Infelizmente parece que nos acontece a todos. Mas eu gostava de envelhecer de forma mais graciosa.
Ser útil de alguma forma sempre foi importante para mim. Não quero tornar-me numa daquelas mulheres dragão que odeiam o mundo inteiro e cuja maior alegria é passar à frente das outras pessoas na fila do pão no supermercado. Acho isso terrivelmente triste, para não dizer irritante.
A utilidade no emprego sempre foi muito importante para mim. Acho que é uma das razões pelas quais continuo a ser professora. Apesar de pensar que se o futuro são estes miúdos que me passam pelas mãos então estamos todos lixados, continuo, de uma forma algo utópica com a esperança que algum deles aprenda realmente qualquer coisa. Pelo menos que algum deles entenda que a criatividade é importante e é isso que faz mudar o mundo. A criatividade e a cobiça, mas pronto.
E se não tivesse que trabalhar, provavelmente não andava por aí de trombas a fazer os possíveis por dificultar a vida do resto do mundo. Bom, e daí, talvez andasse. Tenho tendencia para ser um pouco anti-social.
Mas se não considerasse importante ter um emprego útil, para uma pessoa como eu que fez o curso na Faculdade de Belas Artes, nada mais facil do que auto-intitular-me artista e passar o resto dos meus dias a discutir o que é o belo. Então tornar-me-ia um desperdício de espaço antes do tempo.
Sim. É realmente assim que eu vejo os artistas. A arte já não existe. A secunda metade do século XX já não produziu praticamente nada de inovador. O valor de choque e quanto dinheiro se pode ganhar com umas nódoas de tinta numa tela venceram. Mas pronto. Pode ser que o mundo acabe mesmo para a semana. Têm que admitir que tinha uma certa piada. Pelo menos era inovador.
Na verdade tenho muito mais respeito pelo artesanato. É a excelência técnica que está em jogo sem nenhuma da pretenciosidade. Acho que é por isso que gosto de ter aulas de piano. Estou a aprender uma técnica. Nada mais do que isso.
Fui dar comida às gatas, os comprimidos, etc. Falei com a veterinária e ela disse que o que a Scully tem tido pode ser de ter levado uma pancada na cabeça ou ter andado à luta com uma das outras. Perfeitamente compatível com o seu comportamento.
Estive a pintar o cabelo. Está castanho outra vez. O primeiro a dizer que estava melhor antes leva na cabeça.
Agora ainda tenho que ir pintar as unhas, escolher a roupa para sexta feira e limpar a casa. Acho que esta última parte fica para amanhã. Não sei muito bem porquê mas tenho essa sensação.
O cozinheiro tocou por isso tenho de ir desligar o lume da sopa. |