1 de Setembro, segunda |
Primeiro dia de regresso ao trabalho.
Acordei às cinco e quarenta e cinco e voltei a adormecer.
Levantei-me finalmente às nove e meia. Arranjei a comida para o dia e fomos para o escritório. Com a falta de hábito, só quando chegámos lá é que reparámos que não tinhamos as chaves. Voltámos para trás. O Pedro estacionou e eu fui buscar as chaves. Quando cheguei à porta do prédio reparei que também não tinha as de casa. Fui buscar as do Pedro.
Quando finalmente chegámos ao escritório já eram dez e meia.
Passei grande parte do dia a organizar a papelada que se acumulou durante o mês de férias - fazer descrição de movimentos da conta bancária, anotar facturas pagas, organizar os documentos pora data para enviar ao contabilista, arquivar correspondência, etc.
Ultimamente gosto bastante mais deste trabalho administrativo do que do trabalho supostamente criativo.
Deixei de acreditar que seja possível transformar as tendências criativas num emprego. Pelo menos neste tipo de emprego.
Uma actividade criativa é geralmente solitária. Pode ter input exterior e pode-se ser criativo em grupo mas tem de ser um esforço positivo.
No trabalho que faço é mais estilo - olha, faz aí qualquer coisa estupidamente original para este cliente. A criatividade é um processo e nem sempre funciona quando se abre a torneira.
E depois de todo o esforço, quando achamos que finalemente produzimos algo com qualidade, o cliente diz 'Não gosto. Quero antes cor de laranja, as letras a verde e a parte de cima passa para baixo'.
Não fico desanimada por alguém não gostar. É mais isto: porque é que se contrata pessoas supostamente especializadas e com conhecimento da área em que estão a trabalhar se o cliente é que quer fazer a maquete?
Isto não é trabalho criativo. Isto é como pedir a um arquitecto para fazer um desenho técnico a partir do esboço de um miúdo de cinco anos, sem querer saber se o tecto fica bem suportado ou não.
Mas há profissões com mais respeito que outras. E como a minha não tem nenhum, pelo menos em Portugal, fico com muita vontade de mudar de área para uma coisa que não requira o mínimo de imaginação. E passo a poder ser criativa nos tempos livres sem ter ninguém a espreitar constantemente por cima do ombro nem a dizer 'eu não fazia assim'. É o meu único sonho neste momento.
À noite apareceu o meu irmão e fomos jantar fora. De regresso fui visitar os meus pais.
Falta uma semana para o meu aniversário. Vou fazer 30 anos. Para muita gente é um grande marco. Para mim significa pouco. Sinto-me igual. Mas reparo que quando olho para o espelho estou ligeiramente diferente. As mulheres têm tendência para envelhecer mal. Mas tudo bem. Preocupo-me mais com a balança do que com o relógio. Envelhecer é natural, não há nada a fazer. Engordar é que pode ser controlado. Até agora não me posso queixar muito. Nunca passei dos 64 quilos e cada vez que lá chego faço umas semanazinhas de dieta.
Marquei um jantar de aniversário para dia 8. Não gosto de festejar aniversários, mas a minha mãe fica triste se eu não fizer nada, por isso é mais facil organizar qualquer coisa simples do que andar a fazer malabarismos com as diversas pessoas que vão querer passar por cá a qualquer altura - não que seja muita gente, mas mesmo assim, o caos incomoda-me.
A necessidade de organização mental, necessidade de ter a percepção (por falsa que seja) de controlo sobre as situações em que estou envolvida, é um traço demasiado forte da minha personalidade. Não gosto de surpresas. |
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