Como é que se começa um diário? Como tudo, o mais difícil é o início. Depois as coisas começam a encaixar nos seus devidos lugares e passa a ser rotina. Mas os inícios são sempre um desespero.
Penso que o ideal será fazer um resumo do que se passou até aqui. Será mais simples depois explicar certos acontecimentos.
A minha vida em geral não tem nada de particularmente excitante ou interessante. No entanto eu gostaria que tudo continuasse assim mais vezes. Sou o tipo de pessoa que está mesmo bem é no seu sofazinho a ler um livro com um gato ao colo. O resto só causa stress. Dito isto, devo dizer então que tenho tido uns meses complicados demais para o meu gosto ultimamente. E, apesar de as coisas estarem agora a voltar ao sítio, não foi sem deixar algumas marcas profundas. Ora vejamos:
Saí de casa dos meus pais uma semana antes do meu casamento que foi a 4 de Julho de 1998.Eu levei duas gatas e um peixinho dourado, o Pedro levou outra gata. O primeiro ano correu razoalvelmente bem. Em Julho apanhámos mais uma gatinha de uma ninhada que nasceu nas traseiras do nosso prédio - a Scully. Em Agosto deste ano, fomos uma semana de férias para o Algarve já que a minha tonalidade de pele estava a assustar os almadenses, desabituados como estão a pessoas pálidas. Quando regressámos encontrámos as gatas com muito pouco pelo. Estamos a fazer tratamento desde então. Tenho a impressão que os bichos já não nos suportam.
Para melhorar a situação, no final de Agosto acabou o meu contrato de professora com a escola Anselmo de Andrade e não fiquei colocada no concurso de professores. Que bom. É sempre a mesma coisa. Por isso, como todos os anos, no dia anterior ao meu aniversário, lá vou eu para Setúbal para entrar nos mini-concursos. Depois de umas semanas de agonia - com um aniversário particularmente agradável pelo meio, visto que este ano realmente apareceu alguém - constatei que continuava desempregada, desta vez sem grandes hipóteses de encontrar outra coisa tão depressa.
No dia 27 de Setembro fui a uma entrevista no Arco. No caminho para casa, encontrámos uma gatinha ferida. Não fui capaz de deixá-la ali para morrer. Agarrei no bicho, embrulhei-a no meu casaco e levámos a criatura ao veterinário.Tinha o queixo partido, dificuldade em respirar e não se aguentava nas patas. Depois de uns dias de injecções de antibiótico e alimentação a seringa, a gatinha - a que chamámos Ripley - parecia estar a recuperar. Mas durante o fim de semana começou a espirrar e voltou a ter problemas de respiração. Na segunda feira, quando voltámos ao veterinário, descobrimos que tinha uma pneumonia, um dos pulmões já não funcionava e como se não bastasse, tinha uma doença chamada Leucose, para a qual não há nada a fazer. Fomos enterrá-la nessa noite. Decidir se deviamos ou não deixar a Ripley morrer foi a coisa mais difícil que tive que fazer em toda a minha vida.
Agora há a hipótese de as outras gatas terem contraído a doença. Nem sei se quero fazer o teste. É inutil porque não lhes vou fazer nada. Era preciso estarem num estado lastimoso - como estav a Ripley - para eu conseguir tomar uma decisão semelhante. Se há pessoas que vivem dez anos e mais com o vírus da Sida sem ficarem doentes, estes bichos devem ter pelo menos as mesmas probabilidades.
No dia seginte, 28 de Setembro, recebi um telefonema a dizer que sim, sempre ía trabalhar para o Arco. Nem consegui ficar muito feliz. No entanto fiquei bastante aliviada porque significa que vou conseguir sobreviver durante mais um ano. Também andava a fazer um trabalho para o site do Público, e foi aceite. Só falta saber se me vão dar mais trabalhos ou não.
No dia 1 de Outubro fui finalmente ver o Star Wars episode 1. Depois de meses e meses de espera, pus a minha maquilhagem à Queen Amidala (Rainha Amigdala para os amigos :P) e fui à estreia. Apesar de já saber a história toda, gostei do filme. Achei que tanto o Darth Maul como o Obi-Wan aparecem pouco, o miúdo não é um grande actor e havia demasiados bonecos sorridentes, mas os cenários são o máximo e a batalha com os droids e os gungans uma maravilha em que uma pessoa até se esquece que aquilo é tudo feito em computador. Provavelmente tinha poucas naves para Star Wars, mas pessoalmente não fiquei nada decepcionada.
Aquilo que não gostei foi do cinema em si - o senhor encarregue do projector na Academia Almadense resolveu fazer intrevalo a meio da Pod Race e todos os imbecis da cidade estavam lá e não se inibiam de fazer comentários. Enfim, só quer dizer que tenho de ir outra vez.
Também achei piada a poder ir ao supermercado comprar um pacote de batatas fritas com o Obi-Wan. Não tive nada disso quando ers pequena, vou-me desforrar agora.
No princípio de Setembro, como tinha muito tempo livre e estava farta de toda a gente a chamar-me gorda, fui para o ginásio. Três vezes por semana faço 45 minutos de máquinas - step, passadeira, remo - e uma carrada de abdominais. Depois vou para as outras máquinas exercitar os musculos dos braços, pernas e costas. Chego a casa, arrasto-me para o duche, e fico em estado de puré o resto do dia. Ainda gostava de saber quem foi o imbecil que disse que exercício físico dá energia.
O mais irritante nisto tudo é que não perco peso. Acho que estou mais magra mas a balança fica exactamente no mesmo sítio. Eu sei que isso é normal devido ao aumento da massa muscular, mas não deixa de ser irritante.
Também deixei de comer gelado e chocolates. O sacrifício supremo.
Dia 21 de Setembro saíram os novos albums da Tori Amos e Nine Inch Nails. Infelizmente Portugal não está a par desse fenómeno e, passadas duas semanas, contina a ser impossível comprar qualquer dos dois. É agora que eu começo a encomendar tudo pela Internet...
Esta noite começa o mês da Jane Austen na BBC Prime. Quatro adaptações para televisão dos seus livros: Pride and Prejudice e o Making of Sense and Sensibility, Northanger Abbey and Mansfield Park. Finalmente qualquer coisa para ver na televisão.
Se ao menos os imbecis da TV Cabo soubessem tirar as legendas para surdos seria perfeito. |